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Um Natal para Todos

  • Foto do escritor: Débora Hossi
    Débora Hossi
  • 24 de dez. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 24 de dez. de 2020


Não foi neste Natal a primeira vez que ouvi uma pregação sobre a genealogia de Mateus 1. E todas as vezes que eu ouço - eu própria já a preguei - fico maravilhada com os nomes que Mateus decidiu incluir.


E ainda mais: os rostos que Deus escolheu para que trouxessem ao mundo o Messias Prometido.


Em Mateus 1 podemos encontrar todo o género de pessoas, desde Abraão até José, pai de Jesus. Ora Abraão, segundo Génesis 11, adorava outros deuses até que Deus o chamou para abandonar tudo e ir para uma terra da promessa de Deus. Já José, embora que a atitude de deixar Maria deva ser vista como um ato de justiça, este deverá ter sido assombrado com medo, pois foram essas as primeiras palavras do anjo. Desde o início até ao fim desta genealogia é-nos mostrado que a família judia de Jesus continha pessoas imperfeitas.


Mais que isso, continha pessoas que nós provavelmente teríamos vergonha de apresentar na nossa árvore genealógica. E aqui a atenção recai para Tamar, para Raabe e para Rute.

Tamar, uma enganadora estrangeira, adoradora de deuses falsos, que se deita com o seu próprio sogro para conceber. E se não fosse suficiente mau toda a história é o fruto dessa conceção que iria estar na linhagem de Jesus.

Raabe, uma prostituta, também estrangeira, e Rute, originária de Moabe, nação amaldiçoada, tornaram-se trisavó e tetravó do rei David. Ambas condenadas pela sociedade, uma pelo seu estilo de vida e outra pela viuvez. Mas ambas com o seu nome no registro familiar da encarnação do Messias Prometido.


Mas também devemos olhar para a história de outras pessoas como: David, Salomão e Manassés.

David, o pequeno lutador que ganhou ao gigante filisteu, também tem a sua história manchada de sangue. Depois de uma paixão fugaz com Bate-Seba (que é referida como a "mulher de Urias"), mandou matar o marido desta. Além disso, são reconhecidos os seus relacionamentos disfuncionais com os seus filhos. Da semente de David e Bate-Seba nasce Salomão, que apesar de incomparável sabedoria, teve muitas mulheres - 700 mulheres e 300 concubinas para ser precisa - estrangeiras e por isso pagãs e que o levariam a adorar falsos deuses.

E Manassés? Embora que tenha uma história de arrependimento maravilhosa não podemos esquecer as palavras sobre ele - "E Manassés tanto fez errar a Judá e aos moradores de Jerusalém, que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel." 2 Crônicas 33:9

Quantos pecados teve que cometer Manassés para que fosse dito que tinha feito mais coisas erradas do que os povos que não adoravam a Deus?


Podíamos analisar todos os nomes da genealogia de Mateus 1 e aquilo que iríamos descobrir mais são histórias de pessoas imperfeitas, tal como nós, mas que Deus escolheu e usou para trazer o Messias.

Mas se é tão chocante que pessoas como estas fossem incluídas por Deus na família de Jesus, também nos deve chocar a atitude de Mateus que ousou referenciar 4 mulheres na genealogia. Com exceção de Maria, são as únicas 4 referências femininas quer nesta genealogia como na de Lucas.

Escrito num tempo em que as mulheres eram bastante desconsideradas e inferiorizadas, que mensagem queria passar Mateus ao incluí-las deliberadamente na genealogia de Jesus?


Provavelmente a mesma mensagem que Deus quis mostrar à Humanidade ao escolher tantas pessoas imperfeitas, com histórias tão dramáticas, para trazer o Messias Jesus Cristo. A mensagem de uma graça divina maior de qualquer passado vergonhoso. A mensagem de um Natal que alcança todos independentemente da sua origem. A mensagem de Romanos 5:20 - "Onde o pecado abundou, superabundou a graça."


E não achamos esta verdade apenas na genealogia de Jesus. O circuito de contactos deste era igualmente vasto e diversificado.

Encontramos uma mulher samaritana. E até poderíamos pensar que Jesus escolheu relacionar-se mais com estrangeiros para passar esta mensagem. Mas não. Também encontramos uma família judia - Maria, Marta e Lázaro.

Encontramos pessoas humildes como o pescador Simão Pedro. E poderíamos novamente pensar que Jesus apenas se deu aos mais pobres e humildes. Mas, e Zaqueu?

Encontramos mulheres e homens que estavam descontentes com a religião da época, e sedentos da vinda do Messias como a mulher que derramou alabastro aos pés de Jesus. Mas também encontramos homens fariseus, que estavam cegos pela Lei, como Nicodemos e José de Arimateia.

E Simão, o Zelote? Um ex-terrorista que esteve disposto a guerrear com o império Romano mas que assistiu Jesus a curar um servo de um centurião romano.

Se há lição que aprendemos com Jesus, desde a sua linhagem, como a sua vida encarnada e nos seus ensinamentos é isto: "Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus." Gálatas 3:28


E creio para mim que a mensagem mais bonita e improvável do Natal é esta: Jesus nasceu para que qualquer um pudesse ter acesso ao Pai. Não importa de onde veio, não importa o que passou, porque a Graça de Deus, personificada em Jesus, alcança a todos.

Jesus não aceitou apenas aquelas pessoas, ele também me aceitou a mim e a ti. Quantos de nós temos vergonha de coisas do passado, de pensamentos e palavras que ainda hoje nos amedrontam a mente? Mas ainda que esses pecados nos pudessem matar, Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou para que todos aqueles que estão fragilizados pelos seus erros não morressem, mas tivessem a vida eterna.

E se o nosso nome não está escrito nesta genealogia podemos ter a certeza que através de Cristo Jesus ele estará escrito no livro da vida.


Este plano é facilmente reconhecido através do bebé da manjedoura. Esta graça improvável foi proclamada no que hoje chamamos Natal. Por isso não podemos fazer outra coisa do que comemorar o Natal e partilhá-lo neste mesmo sentido: "para que todo aquele que n'Ele acreditasse não morresse mas tivesse a vida eterna." João 3:16


Cristo trouxe um Natal para todos.

Ele o trouxe para a prostituta, para o assassino, para a enganadora, para o imoral.

Ele o trouxe para o religioso pagão e para o humilde sem esperança.

Ele o trouxe para o europeu privilegiado, mas também para o sírio fugido da guerra.

Ele o trouxe para o empresário e para o prisioneiro.

Ele o trouxe para o idoso à beira da morte, mas também para a criança cheia de vida.

Ele o trouxe para aquele que enche uma sala com a sua alegria, mas também para aquele que tem destruído ambientes com o seu mau feitio.

Ele o trouxe para o machista preconceituoso e para a feminista progressista.

Ele o trouxe para o heterossexual, e para o homossexual e transexual.

Ele o trouxe para o homem de direita, mas também para aquele que sempre votou à esquerda.

Ele o trouxe para uma mulher com 5 filhos, mas também para aquela que já fez 3 abortos.

Ele o trouxe para um pai de família, mas também para o homem que abandonou a mulher e os filhos por causa de dependências.

Ele o trouxe para aquele que transpira saúde, mas também para todos aqueles que passam por problemas de saúde mental e já tentaram suicídio.


Ele trouxe um Natal para todos aqueles que por fé creem que a graça de Deus pode limpar as suas maiores falhas.

Ele o trouxe para todos aqueles que querem deixar o seu fardo pesado e descansar na esperança do Deus que faz todas as coisas novas.


É este Natal improvável, esta graça inesperada que eu celebro este Natal. O Natal em que o próprio Deus se deu para que qualquer um pudesse ter-lhe acesso. Qualquer um, como eu.


"Maravilhosa Graça, que doce o seu som

Que salvou um miserável como eu

Estava perdido mas agora fui encontrado

Estava cego, mas agora vejo."

(Amazing Grace, tradução livre)





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