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  • Foto do escritorDébora Hossi

Como a Natureza nos dá uma lição sobre racismo e preconceito (II)


Não será muito difícil perceber pelo meu perfil que eu sou afrodescendente. Uma das coisas que mais me impactou em 2020 não foi o acordar do mundo para a realidade dura do racismo. Foi ter que explicar a cristãos porque nós devíamos ser os primeiros a lutar essa batalha, mesmo sem usar o #blacklivesmatter . Defender perante cristãos que Portugal é um país racista foi a minha maior dor deste ano. Deixa-me desconfortável que cristãos apoiem grupos que desencorajem a diversidade racial. Mas esta foi uma batalha que decidi lutar até ao fim. Foi isso que me levou a esta reflexão.

Não podemos ignorar a questão do racismo e preconceito quando sabemos que o pecado distorceu tudo aquilo que era bom, incluindo a diversidade. Temos de viver as nossas vidas cristãs a agir ativamente até que todos tenham as mesmas oportunidades porque isso respeita a diversidade com que fomos criados. Cada vez que ignoramos o problema do racismo e do preconceito racial, social e de género estamos a comunicar que não entendemos o propósito da diversidade criada por Deus. Só que isto passa por fazer muito mais que pregações a defender pontos de vista. Passa por fazer muito mais do que palestras sobre igualdade.


Se nos recordamos da igreja em Atos 6 iremos nos lembrar que existia uma diferença de tratamento com origens racistas. O que espanta é atitude dos Doze. Eles sabiam que a sua parte estava feita, mas não baixaram os braços até que encontrassem diáconos capazes de resolver esse assunto. Tu até já podes ter feito a tua parte, mas eras capaz de trabalhar para que todos entendam a mensagem e combatam o racismo e o preconceito? Tu defendes a diversidade em todos os lugares onde estejas presente, mas já fizeste conhecer isso a todos para que eles o sigam? Ou a diversidade para ti nem é parte da tua responsabilidade como cristão?


Deixem-me partilhar que há pouco tempo li uma publicação cristã e não havia nenhuma mulher a escrever para aquela edição. Não é caso único. Será que não existem mulheres capazes de o fazer? Ou falta a nossa intencionalidade em mostrar a diversidade com que o mundo e o próprio Reino de Deus foi construído?

Quantas conferências cristãs são aquelas que incluem no seu painel de oradores convidados africanos, afrodescendentes, ciganos ou ainda mulheres?

Quantas vezes incluímos na nossa agenda de pregadores que são de denominação completamente diferente da nossa?


Quantas mais pessoas seriam alcançadas pelo Evangelho se tivéssemos a ousadia de incluir homens e mulheres, pretos e brancos, "betos" e ciganos, conservadores e carismáticos na nossa visão, missão e ação?


A Bíblia deixa claro em Joel: "E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito." Joel 2:28,29


Mas o mais terrível de incluir é a inclusão por pena e só para preencher quotas. Isso não é diversidade. Não foi assim que Deus criou a diversidade. Em nenhuma vez na Bíblia vemos Deus a dizer que iria criar algo diferente porque "faltava aquilo".


Deus cria a diversidade, primeiro porque é bom, e depois porque viu uma lacuna quando ela não existiu.


Não foi há muito tempo que fui a uma conferência em que alguns crentes se levantaram porque o pregador tinha o cabelo comprido. E rimos muito com esta situação, e tem graça de facto.


Mas quantos de nós sentiríamos dificuldade em convidar um pastor carismático para a nossa igreja conservadora (ou vice-versa?)


Quantos de nós temos mais de 3 pessoas no círculo de amigos que pensam totalmente o contrário de nós? E quantos de nós ouvimos a opinião deles já a pensar em rebater a sua ideia em busca da superioridade da nossa teoria?


Quantas mulheres existem na tua igreja local que tu pudesses facilmente colocá-las como oradora numa conferência sobre ensino, finanças ou missões, e que não fosse uma conferência exclusiva para mulheres? Elas não existem ou não são chamadas? Será que Deus deixou as ideias boas exclusivas para o homem?


E o mais duro em 2020: quantas pessoas de raças desfavorecidas tem direito a sentar-se nos lugares de decisão da tua igreja ou organização? Quantas pessoas de raças desfavorecidas tentas evangelizar sem lhes forçar a cultura europeia? Quantas vezes te colocaste do lado dos opressores?


A diversidade de culturas, pessoas e ideias é boa. Mas a tendência do homem e da mulher em 2020, e de muitos cristãos especialmente, é que os outros tem de se adequar à nossa cultura e pensamento, e não cabe a nós, de forma nenhuma trabalhar para entendermos as suas ideologias e nos acostumarmos à cultura deles.


A permanência deste pensamento originou uma sociedade racista e preconceituosa. E agora quando já é tarde demais para apagar as consequências ficamos sentados no banco da igreja, escolhido por nós há muitos anos, sem pouco fazer sobre isso.


Os cristãos deverão ser os primeiros a dar lugar e a lutar pela diversidade no seu meio. Chama o preto, chama o estrangeiro, chama a mulher, chama as crianças, chama o prisioneiro, chama o corrupto, chama a prostituta.

Não foi essa a educação que Jesus nos deu?


- Perdeste a primeira parte? Lê aqui.


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