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  • Foto do escritorDébora Hossi

14 fev: quando o amor não bate à porta

Atualizado: 15 de fev. de 2022

"Quem está batendo na portinha do meu coração?" era uma música que se cantava no meu tempo de acampamentos. Enquanto que para a maioria das meninas da minha idade, esta música levava a sua imaginação para o reino dos príncipes e das princesas, o mesmo não acontecia comigo. Pelo contrário, imaginar um relacionamento de sonho trazia-me um certo nervosismo. Não sei se era porque todos os rapazes que eu gostava não gostavam de mim, ou porque a ideia de relacionamento para mim já era confusa. Não me entendam mal. Eu tive o melhor dos exemplos com o relacionamento bonito e saudável dos meus pais, no entanto, pensar em relacionamento trazia-me dor, aflição e sensação de impotência.

Esta é a minha história com o amor do tipo "namorados, felizes e casados", mas sei que há muitas pessoas por aí que partilham da mesma dor que eu. Relacionamentos são coisas complicadas, que nos magoam e deixam cicatrizes profundas, e que com o passar do tempo nos levam a pensar que o amor nunca mais irá bater à nossa porta. E talvez não bata mesmo. Mas precisamos de uma igreja que diga que não há problema nisso. Está tudo bem se o amor não bater à nossa porta em forma de namoro ou casamento. Precisamos de crentes que apoiem aqueles que por escolha ou não, ficam solteiros.


Infelizmente vivemos numa cultura que - na minha óptica - coloca uma ênfase demasiado pesada nos relacionamentos amorosos. E por isso quem não tiver planos de casamento é, de certa forma, o estranho, o infeliz, o coitado. Durante os meus 33 anos de existência já recebi os comentários mais caricatos que possam imaginar. "Será que é porque és muito independente que metes medo aos rapazes?", "Eles só podem andar cegos!", "Então mas tu não pensas em casar? Já tens idade!", "Não podes pensar só em estudar. Tens de arranjar alguém se queres dar um neto à tua mãe!". O prémio vai para: "Como é que uma rapariga tão bonita não arranja ninguém?".


Não podemos continuar a perpetuar estes comentários, muito menos a ideia que o casamento é o auge da vida da uma mulher e de um homem. Devemos parar de subvalorizar a vida do celibato. Existem muitos homens e mulheres, dentro das nossas igrejas, que por circunstâncias da vida não se encontram num relacionamento, mas que estão completamente satisfeitos em Cristo. E mesmo que não estejam, não será através de um relacionamento que alcançarão a plena satisfação N'Ele. A satisfação completa só poderá ser vivida através da cruz. Então, se não podemos garantir a ninguém que será o casamento que trará a felicidade, não é nenhum azar quando o "amor não bater à porta".

Isso não quer dizer que os solteiros não tenham direito a viver o seu tempo de aflição e dor em relação a este assunto. Como qualquer outra desilusão da vida existem processos de luto e aceitação que precisam de ser enfrentados. Nunca será fácil não corresponder aos sonhos pessoais ou às expectativas da igreja e da sociedade. Há feridas que destroem a auto-estima e até a confiança em Deus, e que precisam de tempo para ser curadas. Assim não devemos impingir a ideia de que um dia todo o sofrimento compensará, e os solteiros viverão um amor de conto de fadas. Nada nos foi garantido nesta área. Devíamos estar proibidos de criar expectativas em vão. Por isso, creio que o melhor conselho seria que "está tudo bem", independente se o solteiro quer ou não encontrar alguém. Está tudo bem se um dia existir um companheiro ou companheira, mas também continua tudo bem se alguém ficar sozinho. Ninguém é menos valioso se está sozinho, porque mais uma vez, tudo se resume ao valor que é encontrado em Cristo. Só Ele é a nossa esperança na área dos relacionamentos, como em qualquer outra área perturbada ou completa da nossa vida.


Então, se é em Cristo que encontramos a satisfação, o valor e a felicidade, como podemos ser bênção para os solteiros que nos rodeiam?


- Em vez de criar expectativas de um relacionamento futuro, deveríamos intencionalmente contar (e recontar) aos outros como apenas Jesus satisfez os desejos pessoais do ser humano. A Bíblia está repleta de histórias de homens e mulheres, que estando ou não num relacionamento, só encontraram satisfação quando conheceram Cristo. Um exemplo disso é a mulher samaritana em João 4.


- Valorizar os solteiros e as suas escolhas de vida. Existem pessoas que mesmo que apreciem a ideia de um relacionamento, não estão dispostas a passar pela construção contínua de um casamento. Tal como Paulo, há homens e mulheres que em certa altura da sua vida, ou até mesmo durante a sua vida toda, preferem dedicar-se a outras causas, como o crescimento do Reino de Deus (1 Coríntios 7:7-9, 28, 32-35)


- Criação de ambientes seguros para conversas francas. Conversas francas, em que preferimos dar honra aos outros (Romanos 12:10), poderá resultar num cuidado e auxílio maior aos solteiros. Preferir dar honra aos solteiros significa que ninguém deverá empurrar a sua visão de casado como se ela fosse a certa. "Ok, neste momento não podes ou não queres ter um relacionamento, mas o que é que Deus está a fazer através de ti agora?" Assumirmos que solteiros estão disponíveis porque não tem família para cuidar é um grande erro. Solteiros, tal como casados, são pessoas em que Deus está a trabalhar para alcançar um propósito certo. Por outro lado, se os solteiros desejam casar, precisam de pessoas sábias que os possam ajudar a crescer e a desenvolver algumas áreas da sua vida. Mas se não existirem ambientes seguros para tal, o mais provável é que os solteiros se sintam mais julgados do que ajudados. E ainda, se os solteiros desejarem ficar assim, deverão ter um lugar seguro, longe de expectativas pessoais, onde sejam aceites pela sua escolha.


- Perceber que é possível fazer-se o luto de pessoas vivas, e que muitos dos solteiros vivem essa dor. Por vezes há a tendência de achar que os solteiros estão a seguir rigorosamente uma lista do "próximo disponível". Pelo contrário, há muitos solteiros que estão a passar por processos de luto e perda. No processo de luto e perda existe o tempo certo para aquilo que é "novo", e ao pressionar esse tempo deixará os solteiros desconfortáveis e inseguros. Pessoas conhecem-se, criam amizade e intimidade, e quando há uma quebra, é necessário que haja um processo mental para mapear essa circunstância na história de vida de cada um. Devemos ajudar os solteiros neste processo, evitando conversas sobre possíveis relacionamentos, porque isso pode ainda abrir mais a ferida. Se não é perceptível qual fase um solteiro está a passar, a melhor opção é evitar comentários sobre a sua vida sentimental ou a ausência dela.


- Envisionar a família cristã como o lugar para encontrar o amor que poderá colmatar as carências relacionais que solteiros (e casados!) têm. Em Génesis 2:18 é nos relatado que o homem não estava bem só. Por isso foi criada a mulher, como auxiliadora adequada. Isso quer dizer que Deus programou o casamento como a solução para a solidão? Sim e não. Algumas pessoas pela sua personalidade irão necessitar do casamento (1 Coríntios 7:9). Porém, Deus estava a instituir a família como o lugar para o homem e a mulher se sentirem amados. Num plano maior e redentor, Deus estabelece a família espiritual onde aqueles que estão em Cristo têm um lugar. Se os solteiros não constituirem uma família é um problema? Absolutamente não! A família espiritual tem um peso maior que uma paixão ou um documento do cartório. A família espiritual é unida pelo sangue de Cristo, que permite todos viverem em amor. Solteiros podem ser amados e amar na igreja. Creio que em maior parte das igrejas tem-se enfatizado o lugar do amor no casamento, mas esse lugar pertence de uma forma ainda mais excelente à Igreja de Deus.






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